sábado, 14 de maio de 2011

Relicário


Existem muitas formas de guardar as coisas. E as pessoas têm mania de deixar em qualquer lugar. Aquelas roupas, aquelas lembranças. O tudo que deveria ser guardado com carinho.
Se tem uma coisa que aprendi é que para cada momento existe um cheiro, uma veste, um gesto, um ato. Uma lembrança. Mas talvez isso se torne pouca coisa ou quase nada para alguém que não esteve ali, ou esteve, mas tanto faz. Afinal, eu sou mulher. E na cabeça das mulheres, até o mais breve beijo parece ser a coisa mais linda e pura que aconteceu. E um olhar, por mais frio que seja, pode parecer doce ou mortificar a alma, dependendo do estado de espírito do receptor. Guardar com carinho cada detalhe de uma vida acaba, então, se tornando característica feminina.
As roupas jogadas de lado; o emaranhado de lençóis. O ato de contemplar o tempo passar, jogado nas lembranças de um passado não tão distante assim. Com os planos de um futuro não tão certo quanto o presente em sua irreverência. Por que as mulheres sonham tanto? Por que as fantasias se unem com a realidade, tornando-a tão áspera e sinistra? Por que esperamos que adivinhem nossos desejos?
Posso afirmar que preferir cores fortes indica o desejo de ter poder. E que ouvir músicas antigas significa mais que saudade; é um misto de tristeza e vontade de ser compreendida. O dever de estar bonita e ser educada, cobrindo a vontade de ser mulher. De simplesmente mostrar-se, em flor, como bem entende que seja melhor. O dever de não passar à frente do homem, encobrindo toda a sua capacidade e desejo de ir além.
Por que, mulher? 
E as coisas do passado já não são marcadas em datas de diários ou caderninhos que celebram uma infância e adolescência inacabada. Aquele dia importante; o primeiro beijo; o primeiro sim. As poesias. Já não bastam. Vem a mente adulta, vai-se o medo infantil.
Fica uma mulher... incompleta. 

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